A ponte

O sol aquecia bem forte e, a o seu calor alimentava a minha pele enquanto que a sua forte luz, encadeva o meu olhar. Para desviar o meu foco, olhei para o céu que não conseguia ver, pois a força do progresso tinha feito uma ponte por cima de mim, tão forte que era tão resistente ao vento quanto os castelos que perduram até aos dias de hoje. A ponte chorava, pois, para além do betão de que é feita, a mágoa dos imigrantes que a fizeram está presente em cada pedaço da ponte. Mágoa por estarem afastados da família, mágoa por enviarem uma caixa com um presente quando, o que queriam realmente era essa pessoa próxima dos seus corações.

Mesmo assim as lágrimas soltavam-se na minha direcção, sozinhas, separadas umas das outras, cada uma a seu tempo, bem definidas e de proveniências diferentes, percorrendo um longo caminho. Eu olhava deliciado vendo-as libertarem-se navegando com o vento.

Depois parti, era hora de voltar ao meu caminho. Quando me afastei, voltei a trazer o meu olhar para a ponte. Porém as suas lágrimas já não se soltavam na minha direcção. De facto poderia dizer que elas já não existiam, simplesmente por não as ver. Apenas vi uma jovem a desfazer-se no horizonte com um vestido encarnado. Porém, acredito que as lágrimas, ainda se continuem a soltar, essas que sustentam a ponte tanto quanto as vigas e o betão querem-se libertar para depois se voltarem a reunir.

1 comentários:

Mary disse...

Gostei imenso da ideia da ponte e das lágrimas de mágoa... a forma como nos sentimos enquanto estamos a fazer algo e a marca que deixamos.

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