Vingança

A cidade parecia morta. Nem o movimento decrépito do fim de tarde, nem a brisa suave que remexia as folhas em cima da relva conseguia atenuar a sensação de decadência que a invadia quando olhava lá para fora. A cidade estava morta.
A felicidade e a paixão há muito que se tinham demitido da sua vida. Sem saber muito bem como, as coisa tinham mudado. Aos poucos, a princípio, e depois...Bem, depois as coisas precipitaram-se.
Agora, agarrava nervosamente a faca de cozinha na mão direita, apertando o cabo, esforçando-se por sentir alguma coisa... Textura, forma. Mas não sentia nada. Apenas sentia o seu fel pessoal e a sua sede de vingança.
Era óbvio onde o cabrão estava. Estava algures na noite, a “pimpolhar” uma gaja qualquer.
Ah, mas ela iria pô-lo na linha. Ia sim senhor.
Uma chave entrou na porta da rua, a porta abriu-se, e a luz amarela e doentia de lâmpadas incandescentes inundou o corredor.
Ele estava morto, e não sabia. Tal como a cidade, lá fora.

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