Houve um tempo em que minha janela se abria para...

... uma cidade cinzenta.
Uma cidade cinzenta cheia de lugares escondidos e portas e janelas que nunca se abriam.
Lembro do prazer de ser criança atrás das grades da janela do primeiro andar, olhando a chuva molhar a rua e o asfalto explodir em cheiro e cascata na ladeira de paralelepípedos que gostava de imaginar como sendo minha piscina particular.
Carros se tornariam barcos e correriam ladeira a baixo como eu, refrescada pela água da chuva, que só mais tarde pude provar.

Houve um tempo em que minha janela se abria para a varanda de uma casa de campo.
Lembro da chuva desafiando os céus, do cheiro da terra e dos estampidos fortes dos trovões, que já não me assustam mais.
O cheiro da chuva no ar. O cheiro do bafo quente, da humidade. O calor colado no corpo até sufoca-lo. O corpo suando, ansiando por chuva.
Lembro do dia em que tomei chuva sem que qualquer um me impedisse.
Lavei a alma na chuva que caíra tantos anos sem que eu pudesse me libertar das grades e correr solta com ela

1 comentários:

Anónimo disse...

a chuva caía...conheces canção da Mariza?

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