TPC 1 Escrita Criativa

Houve um tempo em que a minha janela se abria para outros universos...
Pela noitinha, depois do copo de leite com a bolachinha do signo e do beijinho da mãe, a luz do quarto era apagada. Lá ficava, a habituar o olhar á escuridão do quarto, acto pacífico e sem ansiedades de maior, porque naquele tempo a vida corria sem muitas preocupações. Seria até mais correcto dizer que a vida não corria, passava lentamente. Toda a gente sabe que quando somos pequenos, as semanas e os meses são muito mais compridos e um dia deve ter aproximadamente 24 horas e mais 10 de noite.

Habituado o olhar á escuridão, era possível vislumbrar o roupeiro branco de frente para a cama, no lado esquerdo da parede, algumas das prateleiras do móvel, a arca de palhinha ruiva e entrançada onde se guardavam algumas coisas menos precisas mas dotadas de boas recordações, e as janelas pelo intervalo no cortinado florido.
Era precisamente desse intervalo que o homenzinho de fato e chapéu preto aparecia de lado a espreitar o quarto. Sentindo-se seguro, dava o primeiro passo...
Nunca foi possível ver aquele homenzinho de frente ou de costas, ele só existia de lado, era como se fosse um perfil vivo.

Após as primeiras aparições, passado o susto inicial e engolindo a inevitável lógica matemática dos adultos:
- Não está aqui ninguém! Não está aqui nada... vês?!
E quando a luz voltava a ser apagada, o homenzinho voltava sorrateiro e silencioso de dentro do roupeiro onde se tinha escondido á cautela.
Com o passar do tempo, habituaram-se á presença um do outro e o Sr. Perfil de chapéu preto à gangster entrava e passeava sem pressa pelo quarto explorando curioso um universo tão diferente do seu.

1 comentários:

Anónimo disse...

eu comia os sagitários todos...e adoro leite com bolacha aos 37 anos, é um vício que não passa! A mim não me aparecia homem negro, embora me dissessem que havia, era mais um palhaço horrível de óculos, bigode e chapéu, que por acaso era um boneco de que eu não gostava nada! ;-)

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