O que acontece quando deixamos de fazer planos?

Exercício Final
Escrever Escrever, 13/08/09

Mais célebre que o Cristiano Ronaldo, para o qual já não havia paciência – coitado, a culpa era das revistas cor-de-rosa, dos canais de televisão, das marcas e marketeers – mas mais célebre e respeitado que ele pelo menos ali no bairro, vivia o Tartamundo que tinha sempre a barba por fazer e as pestanas reviradas.
Tartamundo era afixador de cartazes na Cidade das Letras Esquecidas e tinha sempre planos: planos para amanhã, planos para depois de amanhã, planos para as férias, planos de ontem para um dia destes, entre muitos outros planos.
Num dia em que chegou mais uma remessa de cartazes para afixar pelas ruas da cidade, Tartamundo leu num cartaz acabadinho de desenrolar:
“A vida é o que acontece enquanto estamos ocupados a fazer planos”
A frase, que vinha assinada por Thomas La Mance, ficou-lhe ali a ecoar no espírito durante uns tempos. Tartamundo não sabia quem era aquele senhor, mas achou que bem visto, bem visto, ele tinha razão!
Tartamundo que vivia com mãe quase cega de uma vista e infectada de preguiça poética, partiu rumo ao Oriente sem esforço (e sem grandes planos) para sentir a liberdade do anonimato e apreciar em toda a sua plenitude a tão anunciada chuva de pirilampos.

Durante a viagem, num comboio em movimento lento conheceu a Nely, a doce Nely. Tinha um cheiro adocicado viciante mas não enjoativo de menina feita de pão de leite.
Era uma mulher dos seus 50 anos que havia nascido com aquele cheiro colado na pele que para ela era um cheiro maldito que tantas amarguras de amor lhe tinha trazido.
Sentada muito direita, tinha uma timidez compensada com a secura no comportamento que deixava Tartamundo com vontade de lhe dizer:
- Não fales, não estragues!
Ele que ia sentado no banco de frente para ela, pensava:
- Podia ser a Paixão da minha vida!
Esse desejo muito reprimido veio á tona... Esse desejo de ter uma mulher apaixonada por si e para si.
Estava farto de amores rápidos que não crescem como tinha sido com a Madalena, com a Guarda Freixo e com todas as outras.
(...)
Um dia destes acabo o exercício!

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