O Avô e o Chá de Menta

Estou sentada na varanda do meu terceiro andar emprestado a fazer o que há muito não fazia: estar simplesmente sentada. Sem música, a fazer nada, contemplo a paisagem, simplesmente contemplo.
Oiço os sons da rua: conversa entre vizinhos sobre o preço do pão, estores a fechar, o ladrar de uma matilha no fundo da rua, a porta de um carro a abrir, um avião que sobrevoa a cidade...

- Um dia vais sentir necessidade de o fazer, Isabella! - dizia o meu avô.

Após a morte dele e à medida que fui crescendo, cada vez mais se tornaram claras as nossas conversas à hora do almoço.
- Isabella, sabes porque é que a tua mãe bebe tanto chá de menta?
- Não, avô.
- Porque ajuda muito na digestão. E achas que ela gosta?
- Não sei. Gosta avô?
- Não, pequena, não gosta. Ela bebe porque faz-lhe bem, mesmo não gostando muito da infusão. Isabella, o que te pretendo dizer é que gostava que quando fosses grande não fizesses aquilo que não gostas, mesmo que traga inúmeros benefícios. Sempre que possível, junta o chocolate ao prazer de comer.
- Eu gosto de chocolate!

À medida que crescemos é que damos valor à experiência dos que sabem. Depois, juntamos essas experiências às nossas e assim se criam novos comportamentos.
Foram precisos vários anos para perceber que o que me sacia afinal, não era tanto um chocolate, mas muito mais uma fatia de um bolo de bolacha.

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