Luísa Carreira perdeu o emprego

Por Cheila, Jota & Mary
Luisa Carreira tinha perdido a agenda e as chaves de casa na semana passada, há dois meses tinha sido o telemóvel... realmente andava de cabeça no ar.
Agora, o mais improvável tinha acontecido e a questão ecoava irónica dentro de si: Como é que alguém de apelido Carreira, perdia o emprego?! Como?!! Não se conseguia lembrar onde o tinha deixado pela última vez....

Procurou nos bolsos, sem sucesso. Na mala, sempre repleta, quase se perdia a si própria. Tentou o telemóvel, ainda quase sem contactos. As vozes familiares dos amigos franziam as sobrancelhas, “Deves estar a brincar, Luísa. Só tu!”, e entre risadas acabavam por terminar as conversas. “E agora?”, perguntou-se. Estava sentada no carro, oito da manhã, as pessoas iam saindo apressadas em seu redor. Completamente desperta, e sem saber para onde ir. Bolas. E agora?

E agora? Como é que faço para fazer crescer os bigodes do gato? - pensava Luísa com todos os botões que tinha naquela altura. Foi a correr para casa e assim que chegou agarrou num lenço branco que se encontrava na cómoda da cozinha e atou-o na perna esquerda da cadeira que ali se encontrava. Dirigiu-se à aparelhagem e colocou a rodar a faixa nº3. Shriiink!! Abadu abadu!! Vik Vik Raidu!! Palavras estranhas ecoavam ao mesmo tempo que fazia uma dança completamente acabada de improvisar.

Tinha lido um livro de mézinhas indianas e esta era a sugerida como infalível para se encontrar coisas que tinham desaparecido. Dez minutos depois estava tonta, caiu no chão e fechou os olhos até a tontura passar. Recuperada, após alguns minutos, levantou-se, tirou o elástico que prendia o rabo de cavalo e por momentos achou que estava a ver mal.... Freud, que explica sempre tantas coisas, conversava animadamente com Woody Allen sentados á mesa na sua cozinha. Dissertavam sobre onde estaria o emprego que a Luísa tinha perdido. Mais surreal era impossível então Luísa fechou os olhos de novo e voltou a abri-los, mas eles continuavam ali e o Woody olhou para ela e num português aespanholado disse:
- O teu emprego está...

… na gaveta da sala, onde o deixaste antes d’ontem.
Há alturas em que não vale a pena questionar nada, e com um encolher de ombros mais imaginado que real, virou costas e foi para a sala. Abriu a gaveta, e percebeu que o gato Woody tinha razão. Estava lá o emprego perdido! Não sabia o que estaria a fazer ali, mas era certo ter sido ele a escondê-lo. Certamente por vingança por lhe ter cortado os bigodes. Mas ele mereceu. Devia ter adivinhado que comprar um gato em Salamanca não seria boa ideia, malandro.

Ali estava ele...o emprego...que não era mais nem menos a pílula do dia seguinte. Esses acasos nocturnos...ou diurnos...enfim...casos e acasos remetem directamente para uma responsabilidade que Luísa Carreira desconhecia. Por isso é que se dedicou sempre à dança...actividade que dispensa qualquer tipo de material didático se não o próprio corpo.

2 comentários:

Cheila Saldanha disse...

Não dava para por a letra mais pequena???

João Pedro "jota" Martins disse...

Era possível, mas depois deixava de se conseguir ver a escrever :)

Enviar um comentário